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Critérios de diagnóstico de autismo

  • Writer: Patricia Pereira
    Patricia Pereira
  • 7 days ago
  • 3 min read

Rezam as más línguas, e todos os manuais sobre autismo, que este conceito surgiu pela primeira vez em 1943, quando Leo Kanner publicou um artigo sobre o “autismo infantil precoce” ou quando Hans Asperger (1944) descreveu o que mais tarde viria a ser chamado de Síndrome de Asperger. Todavia, a palavra "autismo" apareceu já em 1908, quando foi utilizada por um psiquiatra suíço, embora ele tenha feito uma grande confusão ao associá-la à esquizofrenia. E, para ser realmente exacta, temos de mencionar a professora universitária e psiquiatra Grunya Sukhareva que falou de autismo pela primeira vez em 1925.


Tudo isso para dizer que a história do autismo é longa e cheia de controversas reviravoltas. Para os mais curiosos, recomendo vivamente a leitura de “NeuroTribes” de Steve Silberman, que retrata a história do autismo de forma a ajudar-nos a compreender o porquê de tantos mitos e preconceitos que ainda hoje persistem.


Nos seus primórdios, o autismo e a esquizofrenia eram considerados uma única categoria, mas, pouco a pouco, esses dois conceitos começaram a ser dissociados (ufa!). No entanto, o autismo passou a ser associado a outras teorias pouco recomendáveis, nomeadamente que o autismo seria o resultado de mães "demasiado frias", de um problema emocional ou de um déficit cognitivo.


Finalmente, o autismo passou a ser compreendido como uma condição neurodesenvolvimental, caracterizada por diferenças na forma como o cérebro processa informações. Mas essa visão só foi amplamente aceita em 2013, com a quinta atualização do DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais).


Se no início o autismo era diagnosticado com base numa longa lista de sintomas que mais parecia uma lista de compras, com o tempo as investigações demonstraram que existem grupos de comportamentos ou dificuldades que funcionam como marcadores importantes do autismo.


A psiquiatra britânica Lorna Wing foi uma das primeiras a mencionar a chamada "tríade autista", que sugere que pessoas autistas têm dificuldades em três áreas principais: interações sociais, comunicação e interesses restritos e repetitivos. Esses critérios continuam presentes no DSM-V, que organiza o diagnóstico do autismo em dois grandes grupos de dificuldades, sendo que a capacidade de falar não é um critério de diagnostico.


Ora vejamos o que isso significa, apresentando os critérios diagnósticos com exemplos, mas lembre-se: cada pessoa autista é única na forma como ela mostra estes critérios.


Critério A: Déficits persistentes na comunicação e interação social em diversos contextos, como:


  1. Alterações na reciprocidade sócio-emocional: Tendência a demonstrar empatia de forma atípica.

  2. Alterações na comunicação não verbal ou na integração entre comunicação verbal e não verbal: Uso limitado de gestos ou expressões faciais, ou uso desses recursos de forma pouco integrada ao discurso verbal.

  3. Alterações nas competências para iniciar, manter e entender relacionamentos:Exemplos incluem crianças que brincam em paralelo (lado a lado, mas sem interação direta) ou que participam de interações sociais focadas em interesses específicos.


Critério B: Padrões restritos e repetitivos de comportamento, atividades ou interesses, conforme manifestado por pelo menos dois dos seguintes itens, ou por histórico prévio:


  1. Movimentos repetitivos, uso de objetos ou fala estereotipada: Por exemplo, repetir frases ou palavras ditas anteriormente ou movimentos repetitivos como rodar sobre si mesmo.

  2. Adesão inflexível a rotinas e padrões ritualizados de comportamento verbal ou não verbal: Dificuldade em aceitar mudanças nas rotinas ou na aparência de lugares e pessoas.

  3. Interesses altamente restritos ou fixos, com intensidade desproporcional: Por exemplo, fascínio por temas específicos ou a tendência de colecionar objetos.

  4. Alterações sensoriais: Aumento ou diminuição na reatividade sensorial, ou fascínio por certos estímulos. Um exemplo comum é a dificuldade em perceber sensações corporais, como fome, sede, vontade de ir à casa de banho ou dor – mas é muito mais diverso que isto.


Antes de passar aos critérios diagnósticos C e D, é importante mencionar que as alterações sensoriais descritas no critério B são fundamentais para a experiência autista. Elas podem motivar muitas das dificuldades ou comportamentos observados. Apesar de sua relevância, essas alterações só foram incluídas no diagnóstico em 2013, após estudos conduzidos por Francesca Happé (investigadora), Olga Bogdashina (mãe de uma criança autista) e, claro, Temple Grandin (autista e autora). Se esta peça vital de compreensão do autismo estava ausente até há 10 anos, só posso imaginar o quanto ainda há para descobrir.


Para terminar, não poderia deixar de mencionar os critérios C e D:

  • Critério C: As alterações devem estar presentes desde a infância, embora possam ser menos evidentes em função de estratégias de compensação.

  • Critério D: As dificuldades devem causar impacto significativo no funcionamento social, profissional ou pessoal da pessoa.


Depois de tudo isso, e juro que fiz o meu melhor para ser breve, conto com vocês para continuar esta viagem de descoberta sobre o autismo.

 
 
 

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